Antes de se aposentar da vida, sempre que eu e meus irmãos ficávamos enfezados com alguma coisa, meu pai logo acabava com nosso mau humor dizendo: "Puxa! Quando eu chegar na idade de vocês espero não ficar tão chato!!!"
O velho sabia das coisas. Estamos mesmo ficando chatos. Crianças, jovens e idosos... Os chatos estão se multiplicando em escala geométrica. E eu posso provar. Farejo longe o cheiro da chatice humana.
Certa vez, no supermercado, fazia as compras do mês, quando vi dois carrinhos que seguiam à direita da gôndola cruzarem-se com um terceiro, que se aproximava do lado oposto no mesmo corredor. O condutor do carrinho da frente, um senhor que aparentava pouco mais de 70 anos, logo esbravejou: "Minha senhora, carrinhos tem que ficar do lado direito e não do esquerdo!!! Pessoas à esquerda e carrinhos à direita!" Assustada, a senhora que havia infringido o "Código Nacional de Trânsito de Carrinhos de Compra em Supermercados Lotados" respondeu: "E onde pago a multa? No DETRAN?" Poucos minutos depois, senti de novo o mesmo cheiro. Mais chatice no ar... A troco de nada, um jovem rapaz gritou com um casal que estava à procura de um carrinho para entrar no mercado. "Vão fazer o que aqui dentro? Vocês não estão vendo que o lugar está lotado?" Antes de ouvir a resposta chata, deixei depressa o local e farejei mais uma cena. O sinal havia fechado. Dezenas de pessoas atravessavam a rua simultaneamente. Na primeira fila de carros havia um reboque levando três veículos para a oficina. Em seu interior, o motorista atento intercalava o olhar: ora sinal, ora pedestres. Um senhor de meia idade, que caminhava na faixa, parou, encarou o guincho e, no meio da multidão, gritou: "Tá faturando hein???" A reação do condutor foi engraçada. Levantou as mãos e soltou um divertido: "Eu hein!!!" Apressei o passo para chegar logo em casa. Passei em frente à lotérica e resolvi fazer a fezinha da semana. Dessa vez, uma mocinha, pouco mais de vinte anos, havia terminado de preencher sua cartela, entregando-a para o caixa junto com uma nota de R$ 50,00. Bem treinado, o rapaz conferiu o dinheiro e, rapidamente, entregou o troco para a cliente que reclamou bem alto: "Moço! Eu lhe dei uma nota novinha e você me volta essas notas velhas e sujas? Quero tudo novo em folha ou não sairei daqui hoje!" Confusão instalada. O gerente logo apareceu. Explicou que não possuía na loja notas novas, e que era um simples comerciante. "Apenas nos bancos a senhorita encontrará cédulas em melhores condições", argumentou. A moça bateu o pé. "Não saio. Não saio. Não saio."" O pessoal da fila começou a chiar. "Sai daí ôôô! Para de atrapalhar!" Depois de muito tumulto, ela finalmente se conformou e aceitou receber sua nota de volta, desistindo do jogo já feito. Não titubiei. Ao chegar minha vez, disse para o caixa que queria fazer o jogo da chata. Adivinhe? Ganhei. Não foi nenhuma megasena acumulada, mas deu prá passear no Rio e ainda bancar o churrasco da galera. Que chato, não?
(Nando Faro, correspondente especial do facebook)
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