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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Via Crúcis da Beleza (ou Ingrato Cotidiano Feminino)

Sei que papo "Patricinha" não combina com o estilo pseudointelectual do blog. Mesmo assim vou arriscar a pseudoreputação do coitado. A vontade de desabafar é maior do que o ego da pseudoescritora. Existe algo pior do que salão de beleza no sábado? Cuidar do cabelo, das unhas e demais acessórios do corpo é prá mim uma verdadeira Via Crúcis, com direito a muito mais do que quatorze estações de sofrimento. Sabe aeroporto em época de férias e promoção da Gol a R$ 100 ida e volta para o Rio? É isso. Você nunca sabe o que esperar. Muito menos QUANTO esperar. Em algum lugar do mundo há de existir o salão de beleza ideal. O mesmo dos nossos sonhos. Um lugar onde hora marcada funciona de verdade. Onde você pinta o cabelo e troca a cor do esmalte sem precisar riscar um sábado inteiro do seu tão disputado calendário da vida. Infelizmente a realidade é bem outra. Haja desperdício de tempo. A impressão que dá é que salão de beleza é um empreendimento comercial que nunca ouviu falar em processo de trabalho. A despeito do crescimento exponencial desse mercado, resultado direto do casamento da ciência com a tecnologia, destoa saber que a qualidade de gestão está anos luz de distância das doutrinas da administração moderna. À medida que o tempo passa, em lugar do esperado atendimento agil e eficiente, proliferam características como lentidão, burocracia e despreparo. Se o negócio não fosse privado, os liberais defenderiam a privatização já. Bons tempos aqueles de mamãe. Saía cedo de casa morena para voltar ruiva menos de 40 minutos depois... Exagero? Provo por a mais b, c e o abecedário inteirinho como não estou enxergando as coisas piores do que elas são. No ultimo sábado, por exemplo, decidi retocar as luzes, pintar as unhas e encarar uma depilaçãozinha básica. Basicona mesmo. Nada dessas novidades ultrasexfashionindiana que a gente ouve falar por aí, morre de curiosidade mas não tem coragem de fazer. Na ilusão de que perderia, no máximo, uma manhã do meu dia, pasme..! Cheguei às dez e saí às dezoito. Isso com tudo agendado. Oito horas sentada. Mais precisamente, 480 minutos de Via Crúcis estética. Sabe lá o que é isso? Um expediente inteiro de trabalho. E sem pausa para almoço. Imaginou o mau humor? Agora presta atenção na novela mexicana. Quinze minutos foram embora de cara para que a recepcionista acessasse meus dados no computador, verificasse os agendamentos e chamasse as profissionais responsáveis por cada um deles (no meu salão só trabalham mulheres). Outros quinze, aguardando a chegada das carrascas, fato em muito amenizado por um cappuccino engordiet incluído na conta. Na minha conta, é claro. Eis que surge à minha frente a primeira designer (não se atreva a chamá-lá de cabelereira) que começa a tagarelar sobre novidades, promoções,  cores, tintas e tudo aquilo que te faz interromper uma leitura interessante a troco de nada. "Luzes? A senhora sabia que trabalhamos com mistura de até quatro tons? Fica DI-VI-NO. Bem natural. Até em cabelos castanhos as luzes de mais de duas nuances fazem sucesso. Vale a pena experimentar". Em segundos você se vê em uma ilha cercada de espelhos e catálogos por todos os lados. Depois de perder um tempo enorme folheando tudo, a especialista conclui que a melhor tonalidade para voce é a mesma que havia colocado da última vez. "Não vamos arriscar para garantir o natural. A Rê vai aplicar agora a mistura na raiz, ok?" Entra em cena a ajudante. A pigmentação deve seguir à risca as orientações repassadas pela mestra. Perguntinha inocente: alguma vez na vida você soube repetir com qual diabo de cor tingiram o seu cabelo? Claro que não. A fórmula secreta da Coca-Cola é fichinha perto da matemática química aplicada nos salões de beleza. "Você vai ficar ótima com a 4543.55 misturada com a 9764.89 e um pouquinho da 6589.07 para quebrar o marrom. Garanto que vai combinar com o tom da sua pele." A ajudante chama a ajudante da ajudante para ajudá-la. E lá se vão mais 20 minutos do seu precioso tempo. Em casa você levaria menos de 10. Comigo foram 30. Fora os 20 de espera para a cor chegar ao ponto certo. Outras estações não menos dolorosas se sucedem. Meninas super poderosas materializam-se para cuidar de mãos e pés fatigados. São as manicures, digo, as designers de unhas que, com ajuda dos carrinhos super poderosos, oferecem a você um arco-íris de possibilidades esmálticas, tornando a vida mais difícil do que já é em se tratando de escolhas. Geralmente trabalham em dupla para poupar, segundo elas, o nosso tempo com seus supor poderes. Acredite se quiser. No meu caso, elas finalizaram as tarefas em pouco mais de uma hora, o que trouxe de volta mais reminiscências. Dona Laura fazia as unhas da minha mãe em casa, sozinha, em exatos 45 minutos. Detalhe: mãos e pés. Tem razão. Já não se fazem mais Donas Lauras como antigamente. Alem disso, muita coisa mudou. Só a podologia evoluiu tanto nos últimos anos que agora vem acompanhada de esfoliação, massagem, tecnicas de relaxamento antistress e outras que não me recordo agora. Aparar e pintar as unhas dos pés para calçar uma sandália bonita à noite virou supérfluo em meio a tantas prioridades. Se sobrar tempo, depois de toda a ralação (literalmente digitando) elas cuidam de suas unhas como faria a velha Laura. Para mim, essa etapa durou uma eternidade. Fui obrigada a intercalar tudo com sucessivas lavagens de cabelo e aplicações "parafináticas" em mechas escolhidas aleatoriamente. Para quem conhece a técnica, "puxar luzes" não é tarefa fácil. Muito menos responsabilidade que se delegue a qualquer profissional. É preciso experiência no assunto. E requer amplo domínio das complexas metodologias a base de  papel alumínio, cabo fino de pente e grampos. Todo esse rito processual levou-me, de gorjeta, outras duas horas sem direito a reclamação. Cliente sofredora que se preza não reclama. E foi o que fiz. O comportamento exemplar rendeu alguns brindes de consolação: fofocas, indiscrições, novela das oito, políticos e políticas salariais, receitas de bolo e, como não poderia faltar, conselhos sentimentais. Dei um subtotal rápido. Eram 15 horas e 30 minutos quando a ultima faixa de alumínio foi retirada do meu cabelo. Daí vieram a lavagem, a massagem e a hidratação. Irrelevante dizer que agendei apenas a lavagem. Todo mundo sabe que pintar e não hidratar é o mesmo que sair de férias e não viajar. Não adianta nada. Esse é o código. Para ser aceita no clube você deve aceitá-lo. E compreendê-lo. Lembra a história do "jaquê"? Tipo assim: "Já que a senhora vai hidratar, por que não aproveita a massagem que está incluída na promoção da Wella?" Com isso, juntei à soma 40 minutos e algumas dezenas de reais extras. Aproveitei a pausa da touca para fazer um lanchinho. Estava faminta. Porém, logo perdi o apetite ao lembrar que teria de encarar a escova depois da retirada da máscara capilar. Não havia escapatória. Sair do salão com cabelo pingando é passar atestado de pobreza, segundo as amigas patricinhas. Conheço muitas. "Mais 30 minutinhos, no mínimo", pensei desesperada, prazo que se confirmou em parte, permitindo que, finalmente, eu pudesse seguir para a ultima estacão do meu calvário. A sala de depilação. Normalmente as sessões de depilação giram em torno de meia hora. A minha, prá combinar com a faixa etária, ficou na casa dos 40. Ou seja, lá pelas 17 horas e trinta e cinco minutos alcancei o caixa, não sem antes ser gentilmente convencida a levar alguns produtos para casa, os quais completariam o trabalho feito no salão. Nesse momento veio a curiosidade. Quis entender o motivo pelo qual nenhum estudante de administração teve até hoje a brilhante ideia de propor uma revolução nos modelos de negócio dos salões de beleza. Reengenharia, remodelagem, reestruturação... Qualquer modismo do gênero serviria, desde que terminasse com a expressão "de processos". No dia que fizerem um estudo assim, sugiro iniciar a mudança pela seleção do quadro funcional. Pré-requisito: MUDA. Vedada a comunicação com clientes, avisaria a placa pendurada na recepção. Sugiro, ainda, disponibilizar o cardápio de produtos em meio impresso e digital, contendo tabela de preços e tempo máximo de espera para cada item relacionado no menu, o que chamaria de "melhor estilo Disney de ser". De quebra, iPad (ou minibiblioteca, se você é avessa à onda hightech), café, sala de ginastica e cinema cult. Pequenas grandes ações que transformariam por completo esse ambiente surreal, com o qual não apenas convivemos como também depositamos vez ou outra razoável percentual do nosso salário. Sem falar no principal: o lema da empresa. Proponho uma frase que sintetize a nova estratégia: "Satisfação garantida ou seu TEMPO de volta".

Um comentário:

  1. Eu sei que o meu salão de beleza não é tão chique quanto da senhora. Mas no meu atendem na hora. Consigo fazer unha em 45 min. Sobrancelha 20 min, corte em 20 min e estou livre! Lá a agenda é levada a sério.

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